finalmente consegui um emprego...
e logo na minha area!!
a vida esta a comecar a compor-se!
Charlotte
O motivo pelo qual escrevo hoje, é que tudo mudou. Da pior forma, percebi que a vida é só uma, e que cada momento, cada sorriso, cada estrela, cada abraço, cada passo, cada casa, cada anoitecer tem uma magia infindável, da qual temos o privilégio de usufruir, pelo simples (complexo) facto de estarmos aqui! E estar aqui é uma benção...
Dia 25 comecei a sentir-me mal. Com asma, muita falta de ar. Já há várias semanas andava a pôr o inalador em demasia, mas nem me preocupava, ficava bem por 3 ou 4 horas e depois punha mais. Dia 26 de manhã achei que seria melhor ir ao hospital. Mas não queria...deixei passar as horas...adormeci e, ao acordar, lá prás 19h, voltei a por a bomba. Passados uns minutos só consegui dizer "TENHO QUE IR PARA O HOSPITAL AGORA!!!!". Já não entrava praticamente ar nenhum. Sentia-me sufocar!
Na urgência, sem conseguir articular uma frase, fui encaminhada para a zona laranja, onde me aplicaram o tratamento habitual: nebulização com soro, salbutamol e atrovent, uma injecção na veia com prednisolona, tentaram tirar sangue da minha artéria para ver os niveis de oxigénio no sangue mas não conseguiram. Nada resultou. 2ª nebulização, injecção de hidro-cortisona, 3ª...e o meu coração começa a ficar fraco. Injectam-me adrenalina e tentam a 4ª, mas era tarde demais...
Dali comecei-me a sentir encaminhada para um local que eu não conhecia e não me diziam o que era. Percebi então que o médico já não sabia o que fazer, e me mandou para a sala de emergência. Com o desfibrilhador à minha frente, aquela era a sala onde se decidia se uma vida terminava por não haver mais nada a fazer para a salvar, ou se os recursos até resultavam e a vida seguia... e ali estava eu! Deitada, com uma mascara de oxigénio, puseram um catéter na minha artéria do pulso esquerdo, presa com um ponto para não se deslocar, e começaram a libertar adrenalina gradualmente. Ao mesmo tempo, mediam a minha tensão directamente na artéria, fazia nebulizações, oxigénio e hidro-cortisona. Acho que naquele momento não me tinha apercebido ainda da graviade do que se passava... Estive a minutos da morte!
Dormi pouco, mas quando acordei conseguia respirar. Conseguia falar, meti-me com as enfermeiras. Pensei que tudo tinha sido um pesadelo e que dali a umas horas estaria em casa. Mas não. Dali fui apenas transferida para os "Cuidados Intermédios", onde estaria vigiada e monitorizada 24h. Batimentos cardiaco, saturação de oxigénio no sangue, tensões, ritmo respiratório, mascara de oxigenio,3 catéteres...
Conheci a enfermeira Catarina. Uns olhos verdes brilhantes, uma atenção e dedicação extremas e lindas ao que fazia, rodeou-me de atenções e fez tudo por mim! Nunca a vou esquecer... No segundo dia, graças a ela, já pude ir ao wc (uma grande conquista para mim) e mesmo tomar banho no chuveiro! :) Obrigada...
Da sala de cuidaos intermédios, segui para o internamento. A enfermaria de Medicina A, cama 19. E vivi ali uma semana.
Com um anjo ao meu lado. O Ricardo.
Não saiu do meu lado enquanto o horário de visitas durava, durante todos estes dias. E juntos fomos descobrindo o significado de verdadeiro amor. O sentido da vida*. Fomo-nos descobrindo dentro de nós mesmos e um ao outro. E o quão errados estávamos até agora em relação ao significado de tal sentimento. Decidimos fazer coisas que antes não seriamos capazes. Tomar decisões...permitir-nos ser felizes! E descobrimos que ser felizes é muito mais do que estar sempre alegre, ou algo assim...é sentir algo incondicional, é ter medo de perder o que mais se ama, é uma partilha intensa de sentimentos num unico olhar ou no toque de uma mão. No hospital, descobri o verdadeiro amor. Sinto coisas que NUNCA senti na vida. E quero senti-las para sempre...
Uma semana no hospital dá muito tempo para pensar. Houve um dia em que caí em mim e chorei. Como se tivesse saido de um filme que tinha estado apenas a observar, e percebido que não foi um filme, eu estive a minutos de morrer!
Limpei as lágrimas e percebi a sorte que tive. A oportunidade que me foi dada. De viver. Percebi que de um minuto para outro tudo acaba. Percebi que há coisas lindas e fantáticas que tenho que aproveitar.
Amo o meu filho, amo os meus pais, avós, tios, primos, amigos, amo-vos e estou grata por fazerem parte da minha vida. Amo a vida. Quero fazer coisas. Aproveitar esta segunda oportunidade para realmente ser feliz, seja de que forma for. Mas nunca parando, desperdiçando, não dando valor a tamanha benção que me foi dada.
Acredito agora num guia espiritual que não acreditava antes, nunca quis casar na igreja, hoje sinto que necessito fazê-lo. Se o tivesse feito antes não significaria nada mais do que uma festa bonita, o que para mim é uma hipocrisia...agora, quando acontecer, vou sentir-me tão grata que sei que nunca vou esquecer a sensação.
Quero ter mais um filho. Quero continuar a cantar, quero tirar cursos de coisas que me apaixonam, quero trabalhar para ter o suficiente que permita uma vida feliz, mas não preciso de luxos, apenas de amor e de vida. E de saúde...coisa que só valorizei por ter deixado de ter.
POR ISSO MESMO, UM BRINDE À VIDA! E OBRIGADA A QUEM É MEU AMIGO, OBRIGADA A QUEM ME FEZ SOFRER PARA CHEGAR A ESTE ESTÁDIO DE MATURIDADE, E OBRIGADA A UM DEUS QUE ME FEZ PARAR E PENSAR...
*Amo-te Ricardo!"